segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Amor sem barreiras - Politeama


Como muita gente me perguntou como era o Musical, tornou-se mister escrever aqui uma pequena "review" do mesmo. Atenção que isto baseia-se na pouca informação que se consegue obter só vendo o musical uma vez e eu só vi a estreia a convite do meu amigo, Filipe La Féria.
Alguns chamam-lhe "o musical dos musicais". A mim permitam-me discordar profundamente. A história é basicamente a história de "Romeu e Julieta" de Shakespeare, mas transposta para os anos 50 do século XX, numa Nova Iorque onde imigrantes brancos americanos lutavam contra imigrantes pretos porto riquenhos. Basicamente, americanos contra americanos, em vez do confronto entre os Capuleto e os Montechio. No centro da história, Maria e Tony (leia-se Julieta e Romeu). West Side Story (WSS) estreou nos palcos da Broadway e foi imediatamente reconhecido como umas das mais criativas produções musicais do século XX. O seu sucesso enquanto filme foi igualmente estrondoso e o musical mantém-se ainda hoje como uma das maiores contribuições para o Teatro Norte-Americano.
Tudo isto seria muito bonito...se estivéssemos nos EUA. Quanto a mim, WSS é isso mesmo: um Musical Americano. As danças dos porto riquenhos são clichés, a forma como os gangs andam nas ruas lembram mais um bando de maricas numa parada da gay pride e as roupas são tipicamente made in USA - Anos 50. Para quem não gosta da época, como eu, este Musical é uma autêntica tortura.
Em Portugal, Filipe La Féria conseguiu arrancar muita da porcaria que a produção da Broadway tem. Os gangs já não parecem tanto um bando de Amélias e a história flui muito melhor. Graças a Deus os gangs já parecem gangs, e o musical é muito mais suportável. Aliás, vê-se muitíssimo bem. O ponto alto a meu ver são sem duvida os cenários. Uma réplica da Ponte de Broklyn ao fundo do palco com carrinhos a passar de um lado para o outro, e a cidade de Manhattan em fundo, reflectida no East River. Quem viu "A Canção de Lisboa" certamente se lembra de um cenário identico mas com Lisboa em vez de Nova Iorque. Anyway, talvez a parte mais bonita do cenário. O musical é todo muito cheio de cor, onde predomina o vermelho claramente.
Os actores são o outro ponto forte. Pedro Bargado que fez dos melhores Judas que vi e ouvi (e eu vi e ouvi bastantes) regressa no papel de Bernardo, irmão de Maria, ao lado de (na estreia) Lúcia Moniz no papel de Anita a sua namorada. Cátia Tavares, que deixou Um Violino no Telhado no Porto, veio para Lisboa para encarnar o papel de Anita. E muito bem. A moça apesar de não ser propriamente muito bonita, tem uma voz fantástica. Carlos Quintas no papel de Tenente Schrank é, como seria de esperar uma lição de "como ser actor". Esta lição bem que pode ser aprendida por Ricardo Soler, no papel de Tony. Ricardo não é actor. Aliás, o jeito dele para representar é muito pouco ou nenhum. Canta bem é certo, mas num papel tão exigente como o de Tony (Romeu) não pode haver lugar para quem só canta bem. Nas cenas em que contracenava com Pedro Bargado então, levava uma tareia que até metia pena. Foi o único em palco que ficou mesmo a destoar. Por mim ele devia era voltar para a Enfermagem, que lá é que ele estava bem...
No geral o musical é bonito e tem momentos realmente engraçados. O público adorou, se bem que o público da estreia é sempre suspeito. Contudo, se quiserem um serão bem passado no Teatro, recomendo West Side Story a todos. Mas se estão indecisos entre West Side Story ou Um Violino no Telhado, nesse caso recomendo o 2º. Quanto mais não seja porque a própria música é melhor.
West Side Story não é o musical dos musicais a meu ver. Aliás obras como "Rebecca" de Michael Kunze e Sylvester Levay, "The Scarlet Pimpernel" e "Drácula" de Frank Wildhorn ou "O Fantasma da Ópera" e "Sunset Boulevard" de Andrew Lloyd Webber são muitíssimo melhores. Mas, até que esses cheguem aos palcos portugueses, West Side Story é uma opção para quem goste de "Romeu e Julieta".