sexta-feira, 8 de junho de 2012

Portugal, o País-Zombie

Neste pequeno rectângulo à beira-mar plantado, houve em tempos um País chamado "Portugal".
"Portugal", paz à sua alma, faleceu no início deste ano, quando perdeu o seu último símbolo de autonomia: a Língua Portuguesa.
Desde o início de 2012 que Governo e seus tutelados e a generalidade dos órgãos de comunicação social (intimidados, muitos deles, pelo primeiro) adoptaram aquilo a que chamam "Novo Acordo" Ortográfico.
Ele não está em vigor, nem cá nem no plano internacional, não é exequível, nem tampouco aceitável.
No plano internacional falta que haja ratificação de Angola e que seja elaborado o "Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa" que o próprio "Acordo" exige no seu art.2º como condição sine qua non para vigorar. No plano nacional, só existe uma Resolução do Parlamento ratificando o 2º Protocolo modificativo (instrumentos a todos os níveis ilegal no plano internacional por violação da Convenção de Viena e por consequência da CRP) e uma Resolução do Conselho de Ministros do Governo daquele criminoso que, assim que pôde, fugiu para Paris, que ordena que se aplique aos órgãos do Estado, baseando a "nova" ortografia num corrector informático fabricado por encomenda directa. (Não vou entrar agora aqui no quão estranho e fedorento isto é, mas creio que o bafo da corrupção se sente facilmente aqui).
Uma resolução, no plano jurídico, é um conselho. Uma recomendação. Em Portugal a Constituição só considera actos legislativos as Leis, os Decretos-Lei e os Decretos Legislativos Regionais (art.112º CRP). Ou seja, uma Resolução não é um acto legislativo. Como tal não tem poder para revogar outros actos legislativos, nomeadamente aqueles que fixaram a ortografia em Portugal (Decreto 35 228 de 8 de Dezembro de 1945 com as alterações do Decreto-Lei 32/73 de 6 de Fevereiro).

O "Acordo" Ortográfico (que doravante denominarei de "Aborto" Ortográfico, na medida em que o mesmo constitui uma autêntica interrupção forçada de um processo evolutivo natural) não está, portanto, legalmente em vigor. No entanto é vê-lo aí, qual mosca varejeira, colocando as suas patas sujas em cima de toda a palavra escrita e infectando-a com o "vírus da desortografia", este sim, fabricado em laboratório por cientistas loucos com demasiado tempo nas mãos e pouco dinheiro nos bolsos.

As televisões foram, claro, adoptá-lo. Há lá coisa melhor do que tentar vender aos Brasileiros que, agora que escrevem "direto", "atual" e "espetáculo", podem também transmitir no Brasil?
Se os Brasileiros não perceberem depois o que é um "autoclismo", um "autocarro", um "talho", uma "fotocópia", uma "Imperial" ou uma "bica", uma "chávena", um "agrafador", uma "carcaça" etc isso é lá com eles. Que interessa explicar-lhes que "meter-se na bicha" não é praticar um acto sexual com uma pessoa do mesmo sexo, ou que uma "rapariga" é um Ser do sexo feminino menor de idade e não uma fornecedora de prazeres nocturnos, ou que "de fato"para nós é "de peça de roupa usada pelos homens no emprego ou em ocasiões especiais".

As Editoras dividem-se em duas: as gananciosas - como a LeYa e a Porto Editora - a quem, tendo o monopólio dos livros escolares e tendo presenças de peso no Brasil, lhes convém que passem a vida a ter de alterar os manuais escolares; e as estúpidas - como a Saída de Emergência - que como pequenas editoras, em vez de respeitarem os seus leitores, decidiram enfiar-lhes o Aborto Ortográfico pela goela, para agradar às grandes editoras.


Assiste-se ao maior e mais descarado assalto à Língua Portuguesa, já de si tão mal tratada pelos políticos e pelos pivôs de telejornal, que há memória num Estado Democrático. Ninguém perguntou nada àqueles que usam a Língua como profissão (e quando perguntaram, os pareceres foram devidamente ocultados e ignorados, por não dizerem o que queriam) e muito menos ao Povo que a controla.
E o mais grave é que os Portugueses parecem estar-se nas tintas para o assunto. Que importa? Eles "vão continuar a escrever como sempre escreveram". Não compreendem que isto é maior que eles. Que a rejeição do AO deve ser sonora e visível. Que não é porque "eles continuam a escrever como sempre" que a Coisa vai ser destruída. Para eles a Língua Portuguesa não tem valor.

Ah, mas esperem só até jogar a Selecção (ou "Seleção" como lhe querem chamar) de Futebol! Começa o Campeonato Europeu de futebol e lá vão os mesmos labregos para quem a Língua Portuguesa não interessa, a correr, colocar bandeirinhas na janela e gritar pelos jogadores que vão estar lá longe, num Hotel de luxo (o mais luxuoso, aliás!) com todas as suas roupas de marca e os seus dialectos distorcidos pela terrível mixórdia de mau português com Castelhano/Inglês/Alemão/Língua do País onde esse jogador está a jogar.

Para os Portugueses o que interessa é o raio do Futebol. Nunca fomos Campeões de nada. Não o vamos ser de certeza. Mas que interessa ao Tuga isso? Quando joga a Selecção é "Portugal! Portugal! Portugal!". Assim que a Selecção é corrida dos Campeonatos e os jogadores regressam aos ordenados obscenos nos Países onde estão a jogar, "Portugal! Portugal! Portugal!" volta para o baú no sótão.

Portugal é neste momento um País-Zombie.
Sem moeda própria, sem autonomia política, sem autonomia financeira e sem Língua própria, está morto durante 365 dias por ano, só despertando dos mortos de 4 em 4 anos quando a Selecção se apura ou para um Campeonato Europeu ou para um Mundial de Futebol.



___________________________________________________________
Se é daqueles Portugueses que repudia a destruição da Língua Portuguesa pelo Aborto Ortográfico, assine a Iniciativa Legislativa de Cidadãos! Clique no símbolo à direita para saber mais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Paz à sua alma.